terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Dia de lamentar, agradecer e confiar

Pode-se dizer que o dia 14 de janeiro de 2014 é tão marcante na história do Botafogo e de sua torcida quanto 6 de julho de 2012. Seedorf chegou, e agora sai. Um dos grandes craques da história do futebol passou e construiu tudo de positivo que se podia esperar dele — logicamente, num dos maiores clubes da história do futebol.

Hoje lamentamos. Abandona o Botafogo — e o futebol, como jogador — um raio holandês, que nem passou tão rapidamente assim, mas que abalou significativa e positivamente as bases do Glorioso. Seedorf nos orgulhou só por chegar, continuou nos enchendo os olhos com a bola nos pés e não foi diferente em sua postura — inigualável em relvados tupiniquins.

O choro — interior ou não — da torcida Gloriosa hoje é inevitável. Mas não se deve apenas chorar e deixar que a emoção nos leve, inclusive, a um estado de raiva. Não minto: a saída de Seedorf, no momento do retorno do Botafogo à Libertadores, decepciona. Se ele não seria imprescindível, ao menos, certamente, teria importância ímpar. No entanto, ele está em seu direito. Não apenas aquele frio, do papel e das cláusulas contratuais, mas na missão: aqui, a sua foi cumprida. Nos devolveu a paixão e o orgulho de torcer para, agora oficialmente, um dos maiores clubes da América. Devemos agradecer. Se ele não foi o único ou maior responsável por nosso retorno à Libertadores, com certeza foi um dos maiores.

E aqui não posso deixar de registrar um agradecimento por motivos bem particulares. Seedorf me fez ver, a

poucos metros de mim, um dos maiores jogadores da história vestindo a camisa do meu clube — um dos maiores da história. Vi gol de Seedorf. Vi assistências de gênio de Seedorf. Vi cobrança de falta de Seedorf explodindo no travessão. Vi Seedorf vendo mais que todo mundo em campo. Vi Seedorf errar pênalti. E, o principal de tudo, vi Seedorf levantando a primeira taça que vi meu time conquistar frente a frente. A vitória sobre o Fluminense e as consequentes conquistas da Taça Rio e do Campeonato Carioca de 2013 em Volta Redonda — bem como todos os outros jogos do craque que presenciei — estão e estarão eternamente em minha memória. Levemente decepcionado ou não, Seedorf é um cara do qual falarei e muito bem para meus filhos e netos. Honrou a Estrela Solitária que botou no peito e encheu nossos corações de alegria inúmeras vezes.

Sendo uma engrenagem tão importante para nosso esquadrão, é óbvio que Seedorf fará falta. Uma Libertadores com ele colocaria medo nos adversários duplamente — pelo currículo e pelo que de fato faz. No entanto, o momento não é só de chorar e agradecer. Secadas as lágrimas e passados os abraços, é hora de olhar para frente. Logo ali na esquina tem uma Libertadores nos aguardando.

Muito embora precisemos rapidamente de uma reposição para o meio-de-campo, não estamos com a armação desestruturada. Já chegou o ótimo e técnico Jorge Wagner, além de termos o rápido — embora oscilante — Lodeiro.

Agora um comentário talvez criticável, e até aparentemente contraditório. Além de termos boas peças, Seedorf, nos últimos jogos de 2013, não vinha sendo tão decisivo nas partidas mais difíceis. O Botafogo pode vencer sem ele. Embora com ele fosse bem mais fácil...

Acredito também que Nininho (também conhecido como Maurício Assumpção, o presidentista) trará uma reposição para o meio-de-campo. Talvez não tão grandiosa, claro, mas útil, ao menos. Sem contar que temos ótimos valores da base, como Daniel — em relação a quem eu aconselho a diretoria, para ontem, incluir uma multa rescisória bem gorda no contrato.

Ademais, Forlán ainda pode vir. Se chegar, as viúvas de Clarence secarão as lágrimas num segundo. Se não, conquistaremos a América mesmo sem crédito dos pseudo-botafoguenses.

Somos botafoguenses, somos supersticiosos, somos sofridos e únicos em nosso jeito de torcer, mas se tem uma coisa que Seedorf (e Loco) nos ensinou que devemos carregar é: abaixar a cabeça não é uma opção. Matemos qualquer bola no peito e o adversário que se cuide.

Que venha Quito. Que venha qualquer parte da América. A Estrela Solitária conduziu Seedorf e nos conduzirá sempre!

Obrigado, Seedorf!


Vinícius Franco - @franconio
14 de janeiro de 2014

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